“Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
P’ra me poder aquecer
Na mão de qualquer menino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
P’ra tudo o que eu sou caber
Na mão de qualquer de vós
…
Quando eu for grande quero ser
Ponte de uma a outra margem
Para unir sem escolher
E servir só de passagem
Quando eu for grande quero ser
Como o rio dessa ponte
Nunca parar de correr
Sem nunca esquecer a fonte
…
Quando eu for grande quero ter
O tamanho que não tenho
P’ra nunca deixar de ser
Do meu exacto tamanho”
José Mário Branco / Manuela de Freitas
Hoje não é um dia qualquer. Hoje é outro Dia da Criança. Como o dia 1 de Junho. Como o dia de ontem. Como o dia de amanhã. Como todos os dias. Hoje não é um dia qualquer, porque nunca há um dia qualquer. Principalmente, para a Criança. Para a Criança cada dia é especial, uma oportunidade, um recomeço, mais um hino que não se canta, mas se vive. Todos os dias são dias da Criança. Das que conhecem os seus direitos e das que moram num lugar nenhum onde os seus direitos ainda não entraram. Hoje é o dia de cada Criança da nossa casa, da nossa creche, do nosso jardim de infância, da nossa escola, daqui de perto. Hoje também é o dia de cada Criança de longe, de cada uma que o Mediterrâneo engoliu, de cada uma que os Estados Unidos ignoraram na fronteira com o México e de cada uma que, hoje mesmo, morreu numa guerra. Numa guerra com balas, ou numa guerra com palavras. Hoje também é o dia da Criança que mora numa casa onde não há paz. Hoje não é só o dia em que se veste um pijama e se vai para a escola como se está em casa, à noite, enquanto os sonhos vêm e fazem cama. Hoje é o dia em que se está na escola como em família e se percebe que bom que é ter uma família a que se pertence. Hoje, precisamente hoje, passam 30 anos sobre a Convenção dos Direitos da Criança. Hoje é dia de agradecer o caminho que está feito e lançar pés ao caminho que ainda há para fazer.